quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma biografia


Há uma angolana que trabalha conosco aqui " em casa ". Seu nome é Catarina, tem 23 anos, uma filha, é mãe solteira, tem o ensino médio completo, já tentou entrar na universidade por duas vezes e não conseguiu. Ela é nossa principal interlocutora para apreensão de conhecimentos dos mais diversos matizes. Falamos sobre a estrutura familiar angolana, sobre educação, sobre economia, moda... enfim, procuramos sugar todo dia um pouco de tudo. Catarina é uma ótima informante, adora conversar conosco. Num desses papos ela nos diz que pertence a uma família de dezesseis irmãos, filhos de um mesmo pai e quatro diferentes mães. Coisa comum aqui em Angola. Segundo ela, quanto mais filhos uma mulher tiver, mais segura ela estará que não ficará sem nenhum. Qual seria a explicação deste fato: devido à guerra, às feitiçarias e outras crenças e rituais, é comum uma mãe perder vários filhos em um curto espaço de tempo. Então, quanto mais filhos ela tiver...
Eu disse inicialmente que Catarina tentou entrar na universidade por duas vezes e não conseguiu. O sistema aqui ainda é mais perverso que o nosso. Setenta por cento das vagas nas universidades são destinadas aos filhos dos professores, funcionários... mesmo havendo um exame de seleção. E são pouquíssimas as universidades e cursos existentes. Aqueles que têm mais condições saem para estudar fora, principalmente em Portugal. E às vezes, quando voltam, não encontram emprego.
Bom, estamos somente há 15 dias aqui. Imagine o que ainda descobriremos até final de dezembro.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Emoções... emoções...

Hoje, talvez, tenha vivido os momentos mais emocionantes desde que cheguei aqui. Tivemos um encontro com os responsáveis por toda parte de saúde da empresa que nos contratou. Faz parte do nosso trabalho, aqui, pesquisar muito para que nosso resultado seja positivo. O que vi, sabia que existia apenas nos romances que li. As mulheres e homens angolanos, ainda hoje, passam pelo processo de circuncisão. Isto se dá, principalmente nas aldeias. A mesma faca que circuncisa um, faz o mesmo processo com mais cinquenta. Como convencer essas pessoas, que há séculos trazem hábitos culturais já arraigados, que o vírus HIV se dissemina de forma letal e sem piedade?
As pessoas que aqui fazem este trabalho têm todo o meu respeito e consideração. Não só pelo que fazem, mas da forma como fazem, respeitando a cultura local e, ao mesmo tempo, trazendo informações importantes para um povo que merece muito mais do que recebe.
Vale aqui ressaltar que não ouvimos hoje somente a respeito de HIV e SIDA, mas de todas as doenças sexualmente transmissíveis e que merecem ser comentadas e estudadas.
Mas este é um outro capítulo...

domingo, 25 de outubro de 2009

Língua Portuguesa: Brasil/Angola


Estamos " a falar " a mesma língua. Angola, assim como o Brasil, também foi colonizada por Portugal, no século XVI. A influência portuguesa é muito forte por aqui, até mesmo porque eles só conquistaram sua independência em 1972. A comida tem muito da culinária portuguesa e a língua sofreu, a meu ver, uma influência também muito grande, apesar dos angolanos falarem mais de vinte línguas, consideradas nacionais. Eles não aceitam que se diga que falam dialetos, mas sim, línguas nacionais. Portanto, apreciem aí algumas destas diferenças:


Brasil- Angola


paletó- fato

chope- fino

banheiro- casa de banho

vaso sanitário- sanita

brinco- argola

homem baixo- cambuta

fila- bicha

vã ( transporte coletivo )- candonga


Ao final da nossa estadia aqui, este glossário estará, com certeza, bem mais rico.

sábado, 24 de outubro de 2009

Angola e a guerra civil




Angola viveu uma guerra civil durante quarenta anos. E saiu dela muito recentemente. Somente há 07 anos. Muitas das pessoas com quem temos conversado ainda trazem marcas deste período: marcas físicas e emocionais. Muitos perderam parentes, amigos... Há marcas também em algumas construções no centro de Luanda, prédios que foram atingidos por tiros. A diferença de nível social aqui é muito latente. Ou se é rico demais, ou pobre demais. Não existe um meio termo. Apesar de Angola ter um regime de governo presidencialista, o atual presidente , José Eduardo dos Santos, se encontra no poder há 30 anos. Quando do término da guerra civil, a forma que o mesmo encontrou de recompensar seus generais foi doando-lhes minas de diamantes, poços de petróleo... Assim, há aqules que são muitos ricos, riqueza esta conquistada em pouco espaço de tempo e ostentada com muito prazer. Não se pode negar, também, que o país vive um boom de crescimento. Há construções por todo lado que se olhe. Luanda é um verdadeiro canteiro de obras...

As mulheres angolanas


As mulheres angolanas são um capítulo à parte. Trabalham muito, sofrem, cuidam dos seus filhos, vivem intensamente, são muito bonitas e risonhas. Ah, elas também são muito educadas. Há uma coisa interessantíssima aqui em Angola: a sexta-feira, aqui, é considerada o dia do homem. Eles deixam suas mulheres em casa (esposas, noivas, namoradas...) e saem para se divertir, com direito a ficarem com outras mulheres. Todas as suas sabem e têm que concordar com isso. Outra coisa: as mulheres aqui apanham muito, independente da classe social. Há um termo aqui conhecido como "chapada". São as surras que as mulheres levam dos seus maridos. Para nós, foi um choque. Apesar de sabermos que no Brasil há casos como esses, existe a lei que protege as mulheres. Aqui, segundo algumas mulheres com quem conversamos, também existe uma lei semelhante, mas elas não têm coragem para denunciar, pois podem apanhar ainda mais. É assim a vida das angolanas...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cinema em Luanda


Em Luanda há três cinemas ao ar livre onde, no final do dia, as pessoas se reunem para assistirem a uma sessão de cinema grátis. Entre uma sessão e outra há um intervalo para as pessoas fazerem um lanche e comentarem a sessão anterior.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um dia diferente


Hoje fomos aplicar alguns testes com angolanos. Na verdade, tivemos sim, uma maravilhosa aula com eles. Foi uma verdadeira lição de vida. O povo angolano passou por uma guerra civil muito recentemente. Há ainda muitas cicatrizes aparentes desse processo: filhos que perderam os pais, os parentes, e que ficaram sozinhos no mundo; outros que, ainda meninos, tiveram que cuidar dos irmãos menores; mulheres que ficaram sem seus maridos ou que também tiveram que ir à guerra.... No entanto, é um dos países que mais crescem no mundo. Quando se olha pela janela do apartamento, percebe-se que Luanda é um verdadeiro canteiro de obras.
Já falei que o povo angolano é o povo mais risonho do mundo???

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Novos ritmos, novos conhecimentos...

Aqui em Luanda, quando penso que já vi muito, descubro que há muito mais por vir... O ritmo de trabalho se intensifica e a apreensão de novos conhecimentos se dá também de forma acelerada. E quando falo em conhecimento, não me refiro somente ao mundo do trabalho, mas a um conhecimento de mundo inerente àqueles que têm a chance de conhecer outras culturas, outros povos, outros saberes, outros sabores, outra língua, mesmo sendo esta semelhante à nossa.
Estar em Angola é tudo isso e muito mais...

domingo, 18 de outubro de 2009

Um pouco de Luanda


Passamos o domingo trabalhando de forma ligth e prazerosa. Fomos conhecer a Fazenda Kala Kala onde, mais tarde, também haverá um Centro de Formação. Neste espaço se dará a implementação do Projeto no qual estamos trabalhando. Passamos toda a manhã conhecendo este local e mais tarde retornamos para um almoço português na Baía de Luanda, localizada na parte mais antiga desta capital.

sábado, 17 de outubro de 2009

Uma experiência maravilhosa


Espero, com a fé que tenho em Deus, que esta será somente mais uma das fantásticas experências que tenho vivido na minha vida. Realizar este trabalho em Angola é uma prova de que estudo, dedicação e experiência contam bastante na hora de tais realizações.
Desde o primeiro momento tudo ocorreu de forma rápida e interessante. Recebi o convite num sábado à noite e na segunda já estava a providenciar toda a documentação necessária para a viagem. Muitas pessoas foram importantes neste processo, mas aqui vai um agradecimento especial a Helena. Sem ela, provavelmente as coisas não teriam ocorrido de forma tão ágil.
Depois de algumas viagens a SSA, de documentação providenciada, de expectativa, embarcamos para São Paulo e de lá para Luanda. Confesso que tudo que aqui estou vivenciando supera as expectativas iniciais. O povo angolano é muito parecido conosco: alegre, festivo, colorido. Fomos recebidas com respeito e consideração por todos que estarão envolvidos no processo durante os próximos dois meses.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Início de uma trajetória


Estas mulheres "arretadas" aceitaram o desafio de saírem do seu país e realizarem um trabalho sério e interessante em Angola.